Beatrice (Novel) - Capítulo 10
Uma semana se passou.
Enquanto a maioria dos escravos acabava fazendo trabalhos forçados, Chloe recebia tarefas de limpeza e, por isso, ela se considerava muito sortuda. Também não havia muito trabalho a fazer.
Sua programação diária era simples. Ela trabalhava na farmácia da enfermaria pertencente ao centro de treinamento de cavaleiros perto do palácio. Todos os médicos eram homens e a maioria das enfermeiras eram mulheres.
Felizmente, nenhuma das enfermeiras e médicos perguntaram o nome de Chloe. Mas ela não ficou desapontada e fez suas tarefas obedientemente: limpar e organizar a bagunça que encontrou. Ela era uma boa trabalhadora, realizando as coisas sem ser informada.
Parecia que sua vida como escrava do Império estava indo melhor do que ela esperava, ela havia se preparado para o pior, e não era isso.
A farmácia, principalmente, comparada à enfermaria ou à sala de exames, não exigia muita limpeza, pois sua única função era dispensar os medicamentos prescritos pelos médicos.
Enquanto ela estava segurando uma vassoura e fingindo limpar por uma questão de educação, ela avistou uma porta com a etiqueta “Armazenamento de remédios”. A porta parecia trancada; portanto, não era acessível a ninguém, acima de tudo, a uma escrava como ela.
Mas a curiosidade começou a corroer, e ela não podia simplesmente ignorá-la.
‘Devo tentar abri-la? Eu só vou dar uma olhada.’
“Uau!!!!”
A sala estava cheia de incontáveis medicamentos e ingredientes. Ela achava que a farmácia em que trabalhava em El Passa tinha a mais ampla coleção de remédios, mas nem mesmo ela se comparava a esta.
Este depósito era grande e…
Sujo.
Todo o lugar estava em completa desordem.
Chloe olhou ao redor da sala, perdendo a noção do tempo. Ela inspecionou cada medicamento e os colocou em seus lugares certos. A próxima coisa que ela sabia, ela estava organizando todo o estoque.
Estava quase na hora dos escravos voltarem para seus aposentos, mas Chloe não conseguia parar. Ela sentiu um prazer estranho ao ver os frascos de remédios sendo organizados um por um. Se ela continuasse amanhã, toda a farmácia poderia ficar intocada.
Está tudo bem; esses médicos e enfermeiras nem sabem meu nome.
Um escravo desaparecido em serviço de zelador não atrairia atenção. Contanto que ela não voltasse para os aposentos dos escravos muito tarde e explicasse que estava limpando a farmácia, ela não teria muitos problemas.
* * * * *
Alguns dias se passaram. Reorganizar o armazenamento do medicamento não foi fácil. Embora ela estivesse familiarizada com a maioria das drogas, o inventário incluía alguns itens que ela nunca tinha visto antes.
Ainda bem que estudei fitoterapia naquela época.
Como farmacêutica de ervas em sua vida passada, sua experiência foi muito útil neste mundo onde a medicina à base de ervas, em vez da medicina ocidental, era usada.
Caso outros escravos viessem procurá-la, ela saía uma vez a cada poucas horas para se mostrar. Depois de fingir que estava limpando por um tempo, ela voltava para o depósito e continuava seu trabalho.
Depois de alguns dias assim, o depósito ficou muito limpo e organizado. Chloe estava imensamente orgulhosa de seu trabalho.
Mas, de repente, ela ouviu uma voz inesperada atrás, “O que você está fazendo aqui?”
Chloe ficou surpresa – ela estava muito absorta em seu trabalho para ouvir a repentina abertura da porta e os passos que se seguiram.
“O… o chão estava muito sujo, então eu o limpei.”
A voz era de Jorge Nanapa, vice-chefe da enfermaria. Jorge olhou ao redor do depósito, ignorando completamente a explicação de Chloe.
“Como você ousa manusear os remédios… você não é médica ou enfermeira… Isso é uma ofensa séria.”
Depois de um longo tempo inspecionando várias partes do armazenamento, ele emitiu um gemido perplexo pela boca escancarada: “A propósito, você organizou o inventário?”
Chloe ouviu Jeorge Nanapa falando, dada sua proeminência como vice-chefe da enfermaria. Era um excelente médico que, apesar de jovem e ter barba branca, tinha olhos jovens e brilhantes.
Tentando a sorte, Chloe decidiu arriscar. Os últimos dias que passou organizando o estoque de medicamentos foram os mais felizes desde sua chegada a Nosteros. Se Jorge acreditasse no que ela dizia, ela poderia continuar trabalhando no depósito, pelo menos para limpá-lo.
Mas e se Jorge simplesmente pensasse que ela era apenas uma escrava impertinente? De qualquer maneira, ele tinha certeza de puni-la de alguma forma por lidar com os remédios sem permissão.
Se funcionar, isso é bom. Caso contrário, tudo bem.
“Eu me desculpo profundamente, senhor. Eu trabalhava como escrava em uma farmácia antes de vir para cá e sempre tive tanta curiosidade sobre os remédios do império que… Apesar do meu conhecimento limitado, não podia simplesmente ignorar a desordem em que o estoque estava.”
“Então, você categorizou e organizou todos esses itens?”
Jorge estava pasmo.
“Não acredito que você saiba os nomes, os propósitos e os usos de todos esses medicamentos. Como é possível quando você não sabe ler ou escrever?”
Apesar de sua condição de escrava, Chloe trabalhou muito, antes de mais nada, para aprender a ler e escrever. O pouco dinheiro que ela ganhou, ela gastou em livros. Como a maioria dos escravos e plebeus que trabalhavam na farmácia de El Passa eram analfabetos, ela trabalhava lado a lado com os médicos e farmacêuticos, auxiliando na contabilidade e na redação de receitas.
“Eu… sei ler, senhor. Mas não estou familiarizada com todos esses medicamentos. Eu coloquei de lado aqueles sobre os quais eu não tinha certeza.”
O queixo de Jorge caiu. Ela não apenas memorizou os nomes desses itens e seus usos – ela realmente entendeu seu uso e as características dos próprios ingredientes!
“Você disse que sabia ler?”
“Sim senhor.”
“E escrever?”
“Sim, aprendi a escrever enquanto estudava fitoterapia.”
Ele não conseguiu esconder seu espanto. Ele tinha visto isso no caso daqueles que perderam seu status social e se tornaram escravos. Eles eram alfabetizados. No entanto, ele nunca tinha visto ninguém como Chloe, alguém com formação especializada.
Jorge, mal mantendo o rosto sério, disse a Chloe: “Independentemente da sua formação em fitoterapia, como se atreve a contar com seu conhecimento superficial e fazer algo assim? Você será enviada para a prisão e aguardará sua punição lá.”
Chloe não ficou desanimada. Ela teria sido punida mesmo se não tivesse contado a ele sobre seu conhecimento, já que ela tocou nos remédios do mesmo jeito. A punição foi, na verdade, mais leve do que ela esperava.
“Qual é o seu nome?”
Com a pergunta, ela fez uma pausa. Ela não havia pensado nisso antes, já que ninguém no Império jamais perguntara seu nome.
Eu não quero mais ser chamada de Beatrice.
Ela respondeu após um momento de hesitação.
“Meu nome é Chloe.”
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Melissa: tb conhecida coma o anjo da farmácia.
Tradução: Melissa
Revisão: Cele
Obrigada pela leitura. ^-^