Beatrice (Novel) - Capítulo 16
Jorge estava bem ciente dos benefícios do descanso. O ar puro e refrescante dos jardins tinha efeitos revigorantes.
No entanto, mesmo em meio às flores, eles continuaram discutindo medicina – não podiam evitar. Às vezes como duas colegiais tagarelas, às vezes médicos, Jorge e Chloe permaneciam absortos em suas conversas.
Quando um médico da enfermaria passou por eles, Jorge perguntou-lhe sobre Evan.
“O Vice-Grão-Mestre ainda está dormindo?” Mesmo tendo visto Evan adormecer, Jorge sentiu-se compelido a verificar o estado do paciente mais uma vez. Assim que o médico o tranquilizou, Jorge descreveu a situação para Chloe enquanto continuava a caminhada.
“Pulando incontrolavelmente e se machucando enquanto carregava um homem nas costas – imagino que esse cavalo vai ser sacrificado.”
“Está correto. Mas eles provavelmente vão esperar até a próxima semana, já que pedi para examiná-lo.”
Chloe se perguntou por que Jorge queria dar uma olhada no cavalo.
“Talvez eu deva fazer isso agora. Você já viu um corcel com pedigree?”
Chloe, lembrando-se do cavalo de Gilbert de seus dias como princesa, tomou um momento para escolher as palavras com sabedoria.
“Eu… não. O cavalo é excepcional assim?”
“Existem melhores lá fora, mas este é o mais bonito que eu conheço.”
Chloe percebeu que Jorge se importava com este cavalo. Um corcel pertencente ao Vice-Grão-Mestre, ela imaginou, seria de fato um dos melhores do império.
Os dois se dirigiram para os estábulos. A viagem, devido ao tamanho da instalação de treinamento, exigia uma carruagem. Embora Jorge tenha convidado Chloe a subir na carruagem com ele, ela preferiu sentar-se na frente com o condutor. Jorge era muito generoso em conceder privilégios a Chloe. Ela temia que aceitá-los livremente tornasse sua vida de escrava impossível.
Sentindo uma vaga sensação de separação entre as noites nos aposentos dos escravos e os dias passados discutindo medicina com Jorge – o vice-chefe da enfermaria e um visconde – ela se esforçou para não esquecer sua condição apesar da natureza do seu trabalho.
‘Devo saber meu lugar.’ Não importava as falsas esperanças que ela tivesse, como uma escrava capturada durante uma guerra, sua posição nunca mudaria. Chloe sabia que fingir não ser uma escrava seria uma coisa ridícula de se fazer.
‘Não vamos me iludir.’ Ela só desejou o que lhe foi dado, desde que tivesse trabalho com Jorge na farmácia. A cama desconfortável e a comida terrível não a incomodavam – ela ainda sabia que tinha sorte
“Uau.”
O condutor os deixou em um enorme estábulo. Chloe se surpreendeu com sua imensidão e com a excelente qualidade de suas instalações. ‘Isso é muito melhor do que os aposentos dos escravos.’ Ela riu para si mesma. Quando eles seguiram o condutor até uma sala grande e luxuosa, ela avistou um garanhão preto deitado de lado com o nariz sangrando.
“Então, este é o cavalo?”
O garanhão ofegava como se estivesse exausto, com sangue jorrando do nariz. Chloe sentiu pena do animal. Uma vida de quase abuso, carregando pessoas nas costas desde o nascimento até a morte – o coração dela se compadeceu por ele.
Como Jorge comentou, ele era excepcionalmente bonito, mesmo para os olhos destreinados de Chloe. Mesmo em seu estado patético, o pelo brilhante do corcel o fazia parecer uma preciosa pérola negra.
“Ele parece bastante extraordinário. É realmente horrível.”
“Há uma montanha perto da capital, chamada Nalusuwan. Aparentemente, Lorde Cupihit permitiu que ele bebesse água perto do riacho enquanto estava lá em cima, e acho que ele pode ter comido algo que não deveria.”
“Uma montanha?”
“Sim, Nalusuwan está fechada para os plebeus devido às suas plantas venenosas. Por alguma razão, nem tantos animais vivem lá.”
“Proibido devido a plantas venenosas…?” Esse conceito era estranho para Chloe. Mesmo em El Passa, com seu terreno montanhoso, nenhuma área foi fechada por esse motivo. Para ela, as montanhas sempre foram benéficas para as pessoas.
Vendo seu rosto perplexo, Jorge a levou para Nalusuwan imediatamente.
* * * * *
A montanha não ficava longe, apenas fora da capital. Quando chegaram, uma hora depois, Jorge e Chloe começaram a examinar suas plantas. Chloe não conseguiu esconder seu espanto.
‘Veja todas essas ervas! Que coisa, a quantidade de dinheiro que poderia ser feita com isso.’
Ela observou muitas plantas raras em El Passa. Nalusuwan era rochosa, mas seus dois picos eram bastante baixos, em comparação com as montanhas que Chloe escalou no passado.
“Senhor, posso dar uma olhada nas plantas nos picos?”
“Eu devo ir agora, mas sim, se você quiser. Apenas certifique-se de voltar.” Embora Jorge soubesse que Chloe nunca faria uma coisa tão imprudente como fugir, ele implorou mais uma vez. Escravos em fuga, se capturados, eram executados sem exceção.
“Certamente senhor.”
Sua varredura completa da montanha acabou demorando muito mais do que ela esperava. O cocheiro, que a esperava, ficou muito aborrecido e gritou que ia partir sem ela. Chloe se desculpou profusamente – ela podia imaginar sua raiva por ter que esperar por uma escrava o dia todo.
“Uma garotinha como você, pavoneando-se por uma montanha proibida o dia todo. Você está louca?”*
Chloe só podia continuar a implorar perdão. Sua estatura baixa, constituição pequena e cabelos curtos a faziam parecer uma garota de apenas vinte anos.
Sentando-se atrás do cocheiro, ela calmamente segurou a cauda de sua capa. Uma voz cautelosa veio até ela, “Não se sente muito perto.”
“Sim senhor.”
Demorou mais uma hora para chegar à mansão dos Cupihits, onde seus aposentos estavam localizados.
‘Eu deveria ficar em suas boas graças, ou ele poderia partir sem mim.’ Pondo esse pensamento de lado, ela não se incomodou nem um pouco com as coisas dolorosas que o cocheiro disse.
_________________________________________________________
*Melissa: pra qm não sabe pavoneando e tipo pirando o cabeção…
Tradução: Melissa
Revisão: Cele
Obrigada pela leitura. ^-^