Beatrice (Novel) - Capítulo 31
Uma mão gorda agarrou um corrimão quebrado. Os anéis em seus dedos produziram um som surdo e ecoante de metal e pedra colidindo. Gilbert estava examinando o antigo palácio de Elpassa, agora seu.
“Eu deveria ter consertado todo o lugar?” O terraço conectado ao seu quarto – que antes pertencera ao rei – estava meio demolido.
O império não manteve colônias – em vez disso, absorveu todos os países que derrotou. De certa forma, isso foi uma coisa benevolente a se fazer. Gilbert obedeceu à política e aceitou todos os cidadãos de Elpassa como seus súditos feudais. Claro, alguns se recusaram a servi-lo, mas todos acabaram como escravos, independentemente de seus status anteriores. Era um sistema estrito e ditatorial, e o povo não tramava mais resistência. A fundação e linhagem do reino decaído morreram com todos os membros da família real.
E os cidadãos e os aristocratas restantes precisavam de um líder para obedecer. Mesmo tendo traído o reino, Gilbert era a única pessoa que tinha o direito de governar o novo feudo.
Ele deixou intencionalmente o palácio em ruína parcial, para lembrar continuamente seus súditos da fragilidade do reino. Ele teve que racionalizar sua traição, explicando que não tinha escolha e constantemente exibia o poder e o status do império para todos que moravam em suas terras.
Enquanto olhava para a aldeia e seus escassos resquícios da guerra, ele de repente bateu com a mão no corrimão.
“Que bastardo arrogante!” Seus lábios se contraíram de raiva. Um cavaleiro de pé atrás dele o olhou interrogativamente. Mas o assunto de sua raiva não estava lá – ele estava no palácio imperial.
‘A guerra teria se arrastado com muito mais derramamento de sangue, se não fosse por mim! Como ele ousa não perceber a dívida que tem comigo?’
Gilbert imaginou Duncan Graham e seu comportamento perpetuamente pomposo. Ele nem mesmo tinha mostrado seu rosto na cerimônia de entrega do novo título de Gilbert.*
Gilbert se tornou o marquês do reino pelo servo sem nome de Duncan. Ele cerrou os dentes com a memória humilhante. Duncan nem mesmo era o imperador – ele era apenas o representante do trono. E ainda assim ele escolheu delegar a cerimônia para seu subordinado.
“Como ele ousa?” Como Duncan poderia maltratar Gilbert, que foi fundamental para sua conquista de Elpassa?
Gilbert não tinha sido capaz de ver Duncan desde seu único encontro antes da guerra. Apesar dos inúmeros pedidos de audiência e viagens à capital, a resposta foi sempre a mesma.
‘Uma audiência não é possível no momento.’
Não havia motivos, desculpas ou explicações de quando ele estaria disponível. Apesar de sua amargura, não havia nada que Gilbert pudesse fazer. Foi Duncan Graham. O palácio estava estritamente sob seu controle, e todos os aristocratas da capital, impotentes por conta própria, dependiam dele. Os mais fracos foram forçados a deixar a capital, e aqueles que não podiam manter uma casa lá, incluindo o próprio Gilbert, só podiam ficar em seus feudos e esperar pelo chamado de Duncan.
O poder e a fama de Duncan eram ainda mais inabaláveis do que Gilbert havia imaginado. E era apenas lógico. Como um cavaleiro, Duncan ganhou o controle total do exército há mais de dez anos e encenou um golpe de estado bem-sucedido contra o imperador.
O imperador na época era um homem patético, impotente contra as nações independentes próximas e cuja única ideia era mudar o palácio para uma cidade diferente. A ocupação do palácio por Duncan, que começou com a desculpa de resgatar o império das invasões inimigas, solidificou-se com a vitória contínua contra os países vizinhos.
E a vitória foi alcançada pelo filho de Duncan, Alexandro Graham.
‘O arquiduque agora está sendo elogiado como o herói do império.’ Gilbert pensou consigo mesmo.
Alguns dos aristocratas, cansados do poder inquestionável de Duncan, até desejaram que Alexandro se tornasse imperador o mais rápido possível. Por algumas razões desconhecidas, Duncan não reivindicou o trono para si mesmo. Alguns conjetcuram que era para coroar seu filho como o primeiro governante do império unificado, mas ninguém tinha certeza. Alexandro estava se preparando para uma expedição para inspecionar os feudos do império.
“Que preocupante.”
Quando Gilbert se tornou o governante de Elpassa, ele visitou os senhores das terras vizinhas na tentativa de formar uma aliança. No entanto, eles não pareciam dar as boas-vindas a Gilbert, que havia virado as costas ao seu país e trabalhado em benefício do império.
Infelizmente para ele, seu novo território ao norte estava longe das nações independentes que haviam sido derrotadas pelo império. Em vez disso, era um lugar tranquilo, governado por senhores de longa data que estavam lá há gerações. A única guerra que viram foram os poucos dias em que Elpassa foi conquistada.
Não importa quantas cartas ele enviou aos senhores, a única resposta que Gilbert recebeu foi, ‘Vamos nos encontrar algum tempo depois. Receio estar bastante ocupado no momento.’
Gilbert entendeu como o apoio deles seria crucial para ele. Quem o apoiaria se algum dia fosse acusado de conspirar contra o império? E se seus súditos se revoltassem contra ele?
Ele olhou para trás, para os cavaleiros fortemente armados que o protegiam. Eles o observavam ao mesmo tempo que o protegiam. Todos os cavaleiros em suas terras foram fornecidos por Duncan sob o pretexto de manter Gilbert seguro. Todos os seus próprios soldados foram retirados e ele não tinha mais permissão para formar seu próprio exército.
“Ufa…” Gilbert continuou. Ele não podia simplesmente sentar lá e esperar até que as coisas mudassem. Para se manter na posição que mal conquistou, teve que ficar batendo de porta em porta.
‘Beatrice já deve estar morta, certo?’
Empurrando os pensamentos sobre a esposa que abandonou, ele preparou convites de casamento para serem enviados aos senhores vizinhos.
* * * * *
“Eu sou o quê?”
“Eu preciso dizer isso de novo? Você está entrando na expedição cerimonial! Isso começa! Amanhã! Servindo! O Arquiduque!” Trigger gritou para Chloe com frustração. Mas ela só podia olhar fixamente para ele como uma idiota.
Ele nunca a tinha visto parecendo tão estúpida. Tendo visto ela apenas fazer e dizer coisas inteligentes, seu rosto inexpressivo quase o fez cair na gargalhada.
Enquanto isso, Chloe era completamente incapaz de rir da mesma coisa.
‘Por que eu?’**
Ela sabia sobre a expedição cerimonial – todo o império estava falando sobre isso. Disseram-lhe que era para felicitar os soldados recém-promovidos, aumentar a moral da cavalaria e manter os senhores feudais sob controle.
‘Poderia levar um ano inteiro …’ E ela faria parte dessa jornada.
“Sua Graça é um homem muito … carismático. Você deve se sentir honrada.” Escolhendo suas palavras com cuidado, Trigger decidiu expressar seu respeito pelo futuro imperador, ao invés de usar sua escolha inicial de ‘assustador’ para descrevê-lo.
Chloe não conseguia esconder seu desespero com a mudança inesperada dos acontecimentos. Nunca havia pensado que participaria da expedição. Ela tinha ouvido alguns dos cavalariços se gabarem de terem sido convidados a ingressar, o que consideraram um grande privilégio.
‘Mas por que me levar?’ Ela não conseguia entender. Por que ela foi escolhida para servir ao arquiduque?
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*Melissa: eu já estou pronta pra morte dessa sanguessuga
**Melissa: pq vc é a prota…
Tradução: Melissa
Revisão: Cele
Obrigada pela leitura. ^-^